As Três Marias


O ato de ler é único, compreensível apenas para quem o concretiza. Cada livro desperta nos leitores emoções diferentes e o efeito provocado é sempre uma surpresa. Depende das experiências vividas por cada um.

Devo dizer que com As Três Marias, romance autobiográfico escrito por Raquel de Queiroz, eu, particularmente, revivi lembranças de meu tempo de colégio. Não estudei em um internato de freiras, como a narradora Maria Augusta (Guta), mas em um colégio militar, e associei algumas passagens do livro a minha vida de estudante.

Os rituais me soaram familiares. Nas passagens acerca de filas e missas, recordei dos momentos em que era preciso "entrar em forma" e das solenidades de toda sexta-feira em respeito à tradição verde-oliva. Ao ler sobre freiras, lembrei de sargentos, tenentes e capitães: alguns comparáveis a vovó Aurinívea, que guardo com carinho em minhas memórias; outros, que depois de tantas pressões e más impressões, não deixaram marcas, pois tão distantes em sentimento como a Irmã Superiora ou os frios alpes do Monte Everest.

Também fui agraciada com grandes amigas, daquelas que são para a vida toda, como as personagens  Maria José e Maria da Glória. Cada uma com seu jeito e sua forma de pensar, seus sonhos, desejos, medos, inseguranças.

E depois dessa fase, a vida adulta. O sair para o mundo, conhecê-lo fora dos muros da vida escolar (ou grades, no meu caso). As paixões desafiadoras de regras. Os amores sem supervisão. As decepções também. As decisões de mulher.

A sensação que tive é de que, no principal, a vida se repete e se repete e se repete...só mudam os detalhes.

Certamente, essas e outras passagens irão despertar fortes emoções em outros leitores e leitoras. Por exemplo, quando são abordados temas como suicídio, fé, caridade, morte, encontros e desencontros, de forma tão simples e clara que impressiona. Não há como não ser tocado.

Nas palavras de Mário de Andrade:

"A gente sai do livro certo de que a vida é maior do que as verdades do momento, piedoso, com vontade de agir, de modificar, de surpreender as realidades que estão acima das contingências da hora. Pegar a vida assim e eternizá-la, pois que tanto pode a arte verdadeira - esta vida que, em sua efemeridade, é a única coisa eterna no mundo..."


Monna Silva

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