Quem tem medo do feminismo negro? , de Djamila Ribeiro - 𝘙𝘦𝘴𝘦𝘯𝘩𝘢 𝘱𝘰𝘳 𝘔𝘰𝘯𝘯𝘢 𝘙𝘰𝘣𝘦𝘳𝘵𝘢




Quem tem medo do feminismo negro?, de Djamila Ribeiro, é um livro composto de artigos escritos ao longo dos anos de 2014 a 2017 para a Revista Carta Capital. Apresenta análises de diversas situações cotidianas, relacionando-as com os temas racismo e feminismo. O livro mostra, portanto, que as discussões sobre o tema que intitula a obra não são de agora, como muitos podem crer em razão do fortalecimento recente de protestos dentro do movimento #VidasNegrasImportam #BlackLivesMatter

Para mim, foi uma coletânea muito esclarecedora. Em uma linguagem didática, Djamila, que é pesquisadora e mestra em Filosofia Política, com ênfase em teoria feminista, apresenta assuntos que poderiam ser considerados complexos, mas de modo acessível para o público em geral. Segundo a própria autora, em entrevista recente no programa Roda Viva, "partindo de um lugar como o Brasil que tem um sistema educacional injusto, é importante a gente se comunicar de maneira a ser entendida, e isso não é uma questão de capacidade, mas de oportunidades". Djamila escolhe falar, portanto, não apenas para a Academia, mas para a sociedade em geral, amplificando o debate sobre seus temas principais de estudo.

É dessa forma, portanto, que apresenta conceitos para racismo, feminismo e interseccionalidade. Explica o porquê de um "feminismo negro" e a razão de um feminismo dito universal não atender às necessidades de todas as mulheres que sofrem opressão. Narra as origens históricas e a evolução ao longo do tempo do referido tema, bem como de suas raízes nas relações de poder.

Ela ainda traz para discussão uma prática que tem se tornado muito comum e que, particularmente, é uma das coisas que mais me incomodam no modo como as redes sociais tem sido construídas atualmente: o ato de falar sobre tudo, sem ter um mínimo de arcabouço teórico ou prático sobre um assunto. Sem a abertura de espaço para ouvir, com bases apenas nos achismos ou negacionismos que andam tão em moda, transforma-se esse espaço em uma guerra de egos constante.

Recomendo, especificamente sobre o tema "lugar de fala", que inclusive é foco de Djamila em outro livro, a leitura dos artigos "Homens brancos podem protagonizar a luta feminista e antirracista?", "Quando opiniões também matam" e "Racismo: Manual para os sem noção". 

Ainda nesse assunto, um dos pontos mais interessantes na leitura foi, em diversas passagens, ver referências a mulheres negras que, antes de Djamila, já revolucionavam escrevendo sobre o feminismo negro em suas épocas, como Angela Davis, Lélia Gonzalez, bell hooks e Grada Kilomba. É uma preocupação constante da autora resgatar essa ancestralidade da produção intelectual negra e feminista, muito útil para quem quiser continuar a se aprofundar nesses e outros temas relacionados.

Vale saber que Djamila foi anunciada pela BBC como uma das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo em 2019, depois de já ter sido considerada pela ONU uma das 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo dos 40 anos. Não sem razão, portanto, vemos suas obras sendo ainda mais discutidas e comentadas agora em 2020.

A leitura de seus livros tem se tornado necessária, especialmente em um momento no qual escolher se posicionar ou manter-se em silêncio são ambos atos de extrema responsabilidade.

Fontes:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50050302
https://www.youtube.com/watch?v=jn1AtnzTql8

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