Breve Resumo de "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais", de Jaron Lanier - 𝘙𝘦𝘴𝘶𝘮𝘰 𝘱𝘰𝘳 𝘔𝘢𝘳𝘤𝘰𝘴 𝘝𝘦𝘭𝘭𝘰𝘴𝘰


Concordando ou não com os "Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais", a reflexão de Jaron Lanier não pode ser desprezada por aqueles que queiram tentar entender os rumos que a sociedade vem tomando.

Lanier é um cientista da computação americano, um dos pioneiros da realidade virtual, e questiona o modelo de negócio das empresas dominantes na internet/rede sociais (Google e Facebook), as quais agem como instrumentos de modificação de comportamento em massa, onde o usuário é o produto, e os anunciantes são os clientes.

Abaixo, faço uma síntese dos dez argumentos listados pelo autor:




Argumento Um: Você está perdendo seu livre-arbítrio.

Logo na introdução, Jaron Lanier compara cães e gatos, sendo os primeiros facilmente adestráveis e dependentes, enquanto os felinos seriam independentes e difíceis de serem adestrados. Nós nos comportamos como os cães hipnotizados perante os estímulos individualizados liberados pelas redes sociais. A lógica desse mercado é "dar uma pequena dose de dopamina de vez em quando" (Sean Parker, primeiro presidente do Facebook) para, resumidamente, viciar a pessoa naquilo.

Quando se estabelece o vício, argumenta o autor, não se tem livre-arbítrio. "Os danos à sociedade ocorrem porque o vício enlouquece as pessoas. O viciado vai perdendo gradualmente o contato com o mundo e as pessoas reais. Quando muitos estão viciados em esquemas manipuladores, o mundo fica obscuro e louco", diz Lanier.

Basicamente, de acordo com meu entendimento, algoritmos calculam seus "passos" online, registram todas as informações sobre nós e, assim, empresas, tanto as de mídias sociais como os anunciantes, ganham muito dinheiro por meio de um complô de mudança de comportamento massivo. Porém, afirma o autor, o efeito comportamental não é o problema em si. A questão é "quando isso acontece de maneira implacável, robótica e sem sentido, a serviço de manipuladores invisíveis e algoritmos indiferentes".   



Argumento Dois: Largar as redes sociais é a maneira mais certeira de resistir à insanidade dos nossos tempos.

Talvez seja o capítulo mais importante do livro. Nele, o cientista da computação não defende o fim da internet e das redes sociais, reconhece que existem iniciativas maravilhosas, porém, ela evoluiria com o abandono em massa dos usuários das plataformas "Bummer". Aqui está o conceito mais debatido da obra, elaborado pelo próprio autor: Behaviors of User Modified, and Made into an Empire for Rent (comportamentos de usuários modificados e transformados em um império para alugar).

Bummer é uma máquina estatística que vive nas nuvens da internet, onde os algoritmos calculam as chances de uma pessoa agir de determinada maneira, aproximando-se, assim, de uma média de certeza quando se considera um grande número de pessoas.

A questão maior, alega Lanier, é que o problema das redes sociais tem origem no estímulo de um modelo de negócio em que o incentivo é encontrar empresas dispostas a pagar para modificar o comportamento das pessoas. "A propaganda de antigamente era possível mensurar se um produto se saía melhor depois que era anunciado, mas agora as empresas estão medindo se indivíduos mudaram seus comportamentos, e os feeds de cada usuário são constantemente ajustados para atingir esse objetivo. Sua mudança de comportamento foi transformada em um produto".

Em seguida, ele explica as seis partes da máquina Bummer: A) como as situações negativas geram mais repercussão, o babaca ganha demasiada atenção; B) o nível de vigilância é tamanho, que é comum as pessoas se meterem na vida dos outros; C) os algoritmos elegem o que cada pessoa experimenta, o feed, interligando vários componentes; D) gera-se engajamento das pessoas para atividades não muito nobres; E) ganha-se muito dinheiro ao permitir que babacas destruam, silenciosamente, as vidas das pessoas;  F) criam-se multidões falsas e sociedades falsificadoras, os famosos robôs. "Se o seu terapeuta está comprometido com uma corporação gigante remota e é pago para levar você a tomar decisões que não são necessariamente de seu interesse, então isso seria uma Bummer".



Argumento Três: As redes sociais estão tornando você um babaca

Jaron Lanier começa esse capítulo falando dele mesmo, de quando ele estava sempre em discussões na internet, se enfurecendo com outras pessoas, e, dessa maneira, foi percebendo que estava se tornando um babaca. Aqui, o autor explica por que as pessoas, viciadas nas redes sociais, ofendem-se rapidamente, tornam-se agressivas. É como se fosse um grande octógono de UFC, onde se tem os imbecis prontos para brigar por qualquer motivo, mas existem também os que querem se diferenciar e acabam se saindo como "super cuidadosos e dotados de uma simpatia artificial". Porém, devido a primeira parte do componente da máquina Bummer, a voz do babaca costuma ser amplificada. O comportamento de rebanho, ou modo alcateia, como ele diz, acaba prevalecendo.     



Argumento Quatro: As redes sociais minam a verdade

Nesse quesito, o componente F da Bummer é protagonista. O autor comenta que é provável que nós já tenhamos comprado alguma coisa na internet após ler críticas positivas, sendo que muitos desses comentários vieram de pessoas falsas. É comum tomarmos conhecimento de tuítes porque foram disseminados inicialmente por bots. Ainda que as empresas de tecnologia busquem combater contas falsas, essas companhias também se beneficiam delas. “Embora pessoas no Twitter possam, em um nível emocional ou ético, preferir que a plataforma esteja livre de bots, eles amplificam a atividade e a intensidade do serviço. Grandes atividades sociais falsas acabam por influenciar pessoas de verdade”. Não à toa, temos vivenciado uma onda crescente de negacionistas e teorias da conspiração, inclusive pautando a mídia tradicional, como, por exemplo, o movimento antivacina. “A Bummer mata”, sentencia Lanier.



Argumento Cinco: As redes sociais transformam o que você diz em algo sem sentido

Nas relações off line, ou presenciais, o contexto em que se dá uma conversa é explícito. Nas redes sociais, entretanto, a falta de contexto pode tornar suas palavras em algo sem sentido. Assim, conclui o escritor: “o que quer que se diga será contextualizado e receberá um sentido de acordo com o modo como algoritmos misturam o que é dito com o que outras pessoas dizem”. O que é dito pode ser contextualizado de uma maneira a favorecer os propósitos e a busca por lucro de uma empresa.

Uma questão que me chamou atenção foi a nova relação dos jornalistas com a Bummer. Quando eu fiz faculdade de jornalismo, as redes sociais não exerciam o poder que têm hoje e, dessa forma, não existiam jornalistas influencers, como se vê atualmente (e me intriga bastante). O raciocínio é o seguinte: as pessoas são apresentadas a veículos de comunicação principalmente por meio das redes sociais. “Presumivelmente, espera-se que os jornalistas e outros realizadores estejam grudados nesses números para maximizar o ‘engajamento’. Eles são forçados a se tornar componentes da máquina Bummer, e isso me dá pena”.



Argumento Seis: As redes sociais destroem sua capacidade de empatia

Como quem determina o que se lê são os algoritmos, você não tem como saber o que outras pessoas estão vendo na internet, e, sabendo cada vez menos o que os outros veem, então temos menos chances de entendermos uns aos outros. As “bolhas” nos fazem enxergar de uma maneira bastante limitada, contribuindo para a perda da percepção social. “A Bummer promove de forma natural o tribalismo e está dilacerando a sociedade, mesmo que os especialistas em tecnologia sejam bem intencionados...Não apenas sua visão de mundo está distorcida, como você tem menos consciência da visão das outras pessoas”.



Argumento Sete: As redes sociais deixam você infeliz

Esse argumento talvez seja um dos mais conhecidos pelas pessoas. Lanier aponta algumas pesquisas que atestam a sensação de isolamento e tristeza das pessoas nas redes sociais. O estabelecimento de padrões de beleza absurdos a vulnerabilidade a “trolls” são razões comuns para a infelicidade nas redes. Nesse capítulo, o autor expõe sua própria tristeza nas redes, como sentia-se viciado e manipulado. “A máquina Bummer faz com que eu me sinta julgado e em uma competição injusta e degradante, e sem nenhum propósito mais elevado”, relata.



Argumento Oito: As redes sociais não querem que você tenha dignidade econômica

Aqui, Jaron Lanier relaciona o aparecimento da Bummer com a deterioração da vida econômica das pessoas, como o crescente número de pessoas que dependem dos “bicos” dos aplicativos. Ele ainda defende que as redes sociais deixem de ser gratuitas, pois, dessa maneira, você se tornaria o cliente de verdade, e não o produto. “O plano de negócio Bummer é retirar seus dados sorrateiramente e ganhar dinheiro com isso. Veja como as empresas Bummer são ricas e lembre que essa riqueza é feita totalmente dos dados que você lhes deu”.



Argumento Nove: As redes sociais tornam a política impossível

Nesse capítulo, o autor lembra dos retrocessos de direitos consolidados vividos nos últimos anos. Também é abordado as eleições recentes de líderes autoritários cujo poder se apoia em tribalismo, como nos Estados Unidos, Índia, Turquia, Áustria. Como o livro foi escrito em 2017, não há a menção ao Brasil, mas o nosso caso fica evidente de como as redes sociais foram decisivas para propagação de fake news que ajudaram a eleger o atual presidente. “A Bummer ganha mais dinheiro quando as pessoas estão irritadas, obcecadas, divididas e com raiva”.



Argumento Dez: As redes sociais odeiam sua alma

Por fim, Lanier remonta alguns dos argumentos anteriores por uma perspectiva espiritual. “O negócio da Bummer está entrelaçado com uma nova religião que concede empatia a programas de computador como uma maneira de evitar lançar luz ao fato de que isso está degradando a dignidade, a estrutura e os direitos de humanos reais”. Ele encerra dizendo que você não precisa excluir suas redes sociais permanentemente, mas, pelo menos por um tempo, para sinalizar que elas estão indo pelo caminho errado.

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